Anglicanos denunciam violência do Estado contra negr@s e indígenas
O racismo é pecado e deve ser denunciado. Todos os grupos vítimas de racismo devem ter sua dignidade reconhecida e protegida, proclamam @s nove bispos e bispas da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) num pronunciamento em resposta a pedido de fiéis preocupados com o genocídio de pessoas negras e indígenas no país.
“É preocupante o cenário de escalada da cultura do racismo que temos diante dos olhos, insuflada institucionalmente desde o Governo Federal, a ponto de se proliferarem episódios de crime e ódio ou discriminação racial escancaradamente”, expressam @s bisp@s. El@s apontam, neste cenário, o desmantelamento de órgãos públicos como a Fundação Cultural Palmares e a Fundação Nacional do Índio (Funai).
A Câmara de Bisp@s anglicana denuncia a “violência física contra negros e indígenas, ocorrida por mãos de policiais, para aqueles, e de grileiros, para estes, contando com a indiferença do Estado e, em casos específicos, sua própria anuência”.
No pronunciamento, bisp@s episcopais reportam-se ao capitalismo “que se alimenta da segregação classista, racista e sexista de pessoas e grupos, atualmente corporificado na necropolítica” instalada no país, que “expõe a atualização do fascismo e desumaniza e nega a vida como bem inalienável que, para nossa fé cristã, é o maior bem que recebemos de Deus”.
A pandemia de covid-19 “escancarou mais uma vez a necropolítica que hierarquiza os sujeitos por grau de importância, elegendo para a morte populações fragilizadas, ao negar-lhes o acesso a direitos básicos que, juntos, formam o que chamamos de saúde integral”. Dados de contaminação e morte provocadas pelo coronavírus mostram que tais populações são as mais vulneráveis, denunciam lideranças da IEAB.
Também o sofrimento de mulheres negras ganhou destaque na manifestação d@s bisp@s, “principais vítimas da violência doméstica e femicídio, cujos números de ocorrência se aprofundaram no contexto da covid-19”, além da dor de tantas outras mulheres cujos filhos – Marco Vinícius, Maria Eduarda, Ágatha, João Pedro e Miguel – “tiveram inocentemente suas vidas ceifadas em decorrência da necropolítica a que são submetidas as populações negras”.
Bispos e bispas motivam todas as instâncias da IEAB a ampliarem o discipulado, o profetismo e a diaconia a afrodescendentes e indígenas, “de modo que nossa comunhão seja significativamente uma comunhão para todas as gentes, como pretende o ethos anglicano”. Também pedem às comunidades para que sejam igrejas de acolhimento integral e seguras para essas pessoas, seja na luta antirracista e na proteção contra toda forma de ódio.
* Reportagem do jornalista Edelberto Behs, para a IHU online.