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Conselho Mundial de Igrejas e igrejas locais manifestam profunda preocupação com a lei do estado-nação judaico
[De World Council of Churches – WCC]
O Patriarca Grego-Ortodoxo de Jerusalém, Teófilo III, observou que a nova lei não menciona os cristãos e os muçulmanos que viveram no território antes e depois da fundação do Estado de Israel e disse que a lei “reforça a institucionalização do racismo e dissipa as esperanças de igualdade”. O bispo Sani Ibrahim Azar da Igreja Evangélica Luterana na Jordânia e na Terra Santa considerou “fundamentalmente divisionista, racista e destrutiva”.
O bispo Azar comentou que a nova lei “deliberadamente exclui 1,5 milhão de cidadãos de Israel que se identificam como árabes israelenses” e “ignora a presença dos cidadãos e residentes que são membros de outros grupos religiosos, bem como as significativas contribuições que fazem à sociedade israelense”.
Uma declaração do Patriarcado Latino de Jerusalém destacou que “a lei não consegue dar quaisquer garantias constitucionais dos direitos dos indígenas e outras minorias que vivem no país” e “envia uma mensagem inequívoca para os cidadãos palestinos de Israel no sentido de não estarem em casa neste país”. A mudança do árabe de língua oficial para língua com “estatuto especial” reforça essa mensagem.
Líderes da Igreja também destacaram os perigos da disposição da nova lei ao estipular que “o Estado considera o desenvolvimento do povoamento judaico como um valor nacional e agirá para incentivar e promover seu estabelecimento e consolidação”. Nas palavras do bispo, “é difícil entender como o encorajamento e a promoção de comunidades segregadas, monoculturais, monorreligiosas em Israel (ou dentro do território palestino, na forma de assentamentos ilegais) faz o Estado de Israel avançar rumo a um futuro de paz”.
O patriarca Teófilo afirmou estar preocupado que esta disposição reforce a força de grupos de assentamento que buscam apreender propriedades da igreja em Jerusalém e em outros lugares. Ele afirmou que os principais defensores da nova lei representam os mesmos órgãos que procuraram promulgar uma lei permitindo que o Estado de Israel confisque as terras de todas as igrejas – que o primeiro-ministro Netanyahu comprometeu-se a impedir, nas discussões após a decisão dos líderes de fechar a Igreja do Santo Sepulcro, em fevereiro deste ano.
Em sua declaração, o Patriarcado Latino sugeriu que a nova lei vai contra a declaração de independência de Israel, que inclui compromissos de “promover o desenvolvimento do país em benefício de todos os habitantes”, para “garantir a completa igualdade de direitos sociais e políticos para todos os seus habitantes, independentemente de religião, raça ou sexo”, para”garantir a liberdade de religião, consciência, linguagem, educação e cultura” e “ser fiel aos princípios da Carta das Nações Unidas”.
Peter Prove, diretor da Comissão do CMI das Igrejas para Assuntos Internacionais, também observou que outra leis básica de Israel – sobre a liberdade e dignidade humana, promulgada em 1995 – “prescreve a dignidade humana e a liberdade como valores fundamentais do Estado de Israel”. Embora esta lei não inclua explicitamente vários direitos humanos fundamentais e internacionalmente reconhecidos, como a liberdade de expressão, liberdade de reunião ou liberdade religiosa, reconhece a importância da proteção da dignidade humana e dos direitos para o futuro do Estado de Israel “como um Estado judeu e democrático” (grifo nosso).
Muitos líderes judeus em Israel e em todo o mundo também manifestaram preocupação com as consequências da nova lei para a democracia de Israel. O CEO da Anti-Defamation League, Jonathan Greenblatt, teria comentado que ela “suscita questões importantes sobre o compromisso do governo [de Israel] em longo prazo com a identidade pluralista e natureza democrática”.
Como conclui a declaração do Patriarcado Latino, “os cidadãos cristãos de Israel têm as mesmas preocupações de qualquer outra comunidade não judaica em relação a esta lei. E chamam a todos os cidadãos do Estado de Israel que ainda acreditam no conceito básico de igualdade entre os cidadãos da mesma nação a exprimir objeção a esta lei e aos perigos que emana para o futuro deste país.”
O Rev. Dr. Olav Fykse Tveit, secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas, destacou que “se trata da Terra Santa e dos lugares sagrados de três religiões. Jerusalém deve ser compartilhada. Não pode ser posse exclusiva de uma religião contra as outras, ou de um povo contra o outro. Jerusalém é, e deve continuar sendo, uma cidade de três religiões e dois povos.”
“Jerusalém é considerada uma cidade sagrada e amada, verdadeira e profundamente, pelas três religiões abraâmicas – pelos judeus, cristãos e muçulmanos”, enfatizou Tveit. “Esse amor e essa conexão profunda devem ser respeitados e afirmados em qualquer solução que possa ser vislumbrada, para que seja viável.”
Tradução de Luísa Flores Somavilla, para o IHU online.