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Palestina-Israel. “Acordo do Século” é unilateral e fere resoluções da ONU, criticam religiosos

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Palestina-Israel. “Acordo do Século” é unilateral e fere resoluções da ONU, criticam religiosos

Palestina-Israel. “Acordo do Século” é unilateral e fere resoluções da ONU, criticam religiosos

Organismos ecumênicos, igrejas e líderes eclesiais de diferentes famílias confessionais manifestaram preocupação com a possibilidade de Israel anexar a partir do dia 1º de julho, com o apoio do governo Trump, partes da Cisjordânia ocupada. O Conselho de Patriarcas e chefes de Igrejas da Terra Santa veem o plano de anexação unilateral “com a maior preocupação e solicita ao Estado de Israel que se abstenha” de tal movimento.

A anexação integra o “plano de paz” apresentado no final de janeiro por Donald Trump para a comunidade internacional. A cerimônia teve a presença do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, mas não contou com a participação, em Washington, do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Zeidan Abbas, quando do anúncio do “Acordo do Século”, assim denominado pela Casa Branca.

O Acordo do Século prevê dois Estados, a anexação dos assentamentos judaicos no Vale do Jordão na Cisjordânia, território conquistado na Guerra dos Seis Dias, e exige das autoridades palestinas o reconhecimento de Jerusalém como capital indivisível de Israel.

Em 2019, o relator especial da ONU sobre a situação dos direitos humanos no território palestino ocupado desde 1967, Michael Lynk, enfatizou que “o direito internacional é muito claro: a anexação e a conquista territoriais são proibidas pela Carta das Nações Unidas”.

Em abril passado, Lynk voltou a se manifestar. Ele disse que o plano do presidente Donald Trump para o conflito entre israelenses e palestinos é uma proposta inteiramente desigual a favor de um dos lados do conflito. “O que o plano Trump oferece é uma solução de um estado e meio”, sinalizou.

Lynk explicou que o pequeno estado palestino previsto pelo plano americano “seriam arquipélagos dispersos no território não contíguos, completamente cercados por Israel, sem fronteiras externas, sem controle sobre seu espaço aéreo, sem direito militar de defender sua seguranças, sem base geográfica para uma economia viável, sem liberdade de ir e vir, e sem capacidade de reclamar em fóruns judiciais internacionais contra Israel ou os Estados Unidos”.

Quando do anúncio do “Acordo do Século”, Netanyahu agradeceu o presidente estadunidense, ao afirmar que “neste dia, você se tornou o primeiro líder a reconhecer a soberania de Israel sobre a Judeia e a Samaria, vitais para a nossa segurança e centrais para a nossa herança”.

“’Judeia e Samaria’ é como os sionistas denominam a Cisjordânia, Palestina ocupada em 1967. O uso dos nomes hebreus de antigos reinos que teriam existido há milênios é uma representação religiosa para atrelarem falsamente a região a lugares judeus”, explicou a jornalista palestino-brasileira Sorya Misleh, autora do livro “Al Nakba – um estudo sobre a catástrofe palestina”, em artigo para a revista Carta Capital de 30 de janeiro passado.

Em mensagem conjunta dirigida aos ministros das Relações Exteriores europeus, em maio, o Conselho Mundial de Igrejas (CMI) e o Conselho de Igrejas do Oriente Médio (MECC) disseram que concordam com a declaração de Michael Lynk sobre a situação dos Direitos Humanos no Território da Palestina ocupada, e pedem uma posição firme da União Europeia contra qualquer anexação da Cisjordânia pelo Estado de Israel. O território em questão engloba duas centenas de assentamentos judaicos, habitados por 450 mil pessoas, parte do Vale do Jordão e a costa norte do Mar Morto.

“A anexação ameaça estabelecer uma realidade legal de apartheid para os palestinos que ficarem no interior das áreas anexadas”, declarou em entrevista para o jornal El Pais Yehuda Shaul, co-fundador da ONG pacifista Rompendo o Silêncio, formada por veteranos do Exército contrários à ocupação.

Igrejas para a Paz no Oriente Médio reuniram 26 líderes de organizações cristãs e da igreja dos Estados Unidos que manifestaram, em carta aos membros do Congresso, total oposição à anexação unilateral de parte significativa da Cisjordânia.

O primaz da Igreja da Inglaterra, Justin Portal Welby, e o arcebispo de Westminster, cardeal católico Vicente Gerard Nichols, publicaram, no dia 12 de junho, uma “Declaração Conjunta sobre Anexação”, na qual “apoiam inequivocamente o direito fundamental dos cidadãos de Israel de viver em paz e segurança, mas essas perspectivas só podem ser garantidas por meio de negociação e não de anexação”.

Patriarcas e chefes das igrejas de Jerusalém enfatizaram: “Como resultado da estagnação do processo de paz no Oriente Médio entre israelenses e palestinos, uma série de planos para Israel anexar unilateralmente terras da Cisjordânia, apoiadas principalmente por facções de direita, levanta questões sérias e catastróficas sobre a viabilidade de qualquer acordo pacífico para acabar com o longo conflito de décadas, que continua a custar muitas vidas inocentes como parte de um ciclo vicioso de tragédia e injustiça humana”.

A manifestação dos patriarcas e chefes das igrejas de Jerusalém aponta que a solução para o conflito foi identificado há muitos anos e consta nas inúmeras resoluções da ONU a respeito. Ela pede: “implementem o que já foi reconhecido”.

Com exceção do governo Trump, “o mundo vê a anexação como uma violação direta do direito e convenções internacionais”, expressou o Grupo do Programa de Parcerias Globais da Diocese Episcopal de Los Angeles.

Na declaração de Pentecostes, o bispo da Igreja Evangélica Luterana na Jordânia e na Terra Santa, Sani Ibrahim Azar, avaliou que a situação política em Israel e na Palestina teve uma reviravolta dramática para pior. “O governo do primeiro-ministro Netanyahu, apoiado pelo governo Trump, aproveitou a atual crise global da saúde para avançar com os planos de anexar assentamentos da Cisjordânia e do Vale do Jordão (ou, como eles afirmam, impor a soberania de Israel sobre essas áreas)”. O bispo pediu “libertação e não anexação”.

O Vaticano também manifestou preocupação com “quaisquer ações futuras que possam comprometer ainda mais o diálogo”. Reiterou que “o respeito ao direito internacional e às resoluções relevantes das Nações Unidas é um elemento indispensável para os dois povos viverem lado a lado em dois Estados, dentro das fronteiras internacionalmente reconhecidas antes de 1967”.

O presidente da Autoridade Palestina advertiu que “se Israel der agora o passo da anexação, desconsideraremos todos os acordos assinados com Israel e os Estados Unidos”. Atualmente, 5 milhões de refugiados palestinos vivem em campos nos países árabes e milhares na diáspora. “Enquanto não retornarem (às terras ocupadas) não se poderá falar de justiça plena”, frisou Soraya Misleh.

* Reportagem do jornalista Edelberto Behs, para o IHU Online.

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