Nota Pública da Visão Mundial pelo fim do racismo estrutural e histórico no Brasil
Na véspera do Dia da Consciência Negra no Brasil de 2020, João Alberto Silveira Freitas, homem negro de 40 anos, foi espancado até a morte nas dependências de um supermercado em Porto Alegre (RS). Na mesma data, a candidata à Prefeitura de Curralinho (PA), Leila Arruda, mulher negra, 49 anos, foi vítima de feminicídio, tendo como principal suspeito o ex-marido.
São dois crimes brutais que exemplificam o que acontece todos os dias pelas cidades brasileiras. Segundo o Atlas da Violência 2020, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em 2018, pessoas negras representaram 75,7% das vítimas de homicídios no Brasil. De todos as 1.326 mulheres vítimas de feminicídio em 2019, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2020, 66,6% eram negras.
Ano após ano, as vítimas do racismo no Brasil têm sido cada vez mais jovens, e em proporções cada vez maiores. Ainda segundo o Anuário, de cada quatro crianças e adolescentes violentadas no país, três são negras. E as desigualdades que iniciam na infância são identificadas antes ainda do nascimento. Segundo dados divulgados pela Fundação Abrinq, a mortalidade infantil no primeiro ano de vida é 22,5% maior entre crianças negras, enquanto 2 em cada 3 mortes maternas são de mulheres negras.
A Fundação aponta ainda que 5,4% dos bebês negros nascem abaixo do peso, enquanto a porcentagem em bebês brancos é de 3%. Durante o pré-natal, 32% das gestantes negras não fazem todos os exames recomendados – entre as mulheres brancas, esse percentual é de 19%.
Esses são apenas alguns dos fatos que reforçam a necessidade urgente de toda a sociedade brasileira agir pelo fim do racismo que vitima diariamente milhares de crianças e adolescentes. São violências que perduram na vida jovem e adulta de milhões de brasileiros e brasileiras, e que têm marcado gerações inteiras, desde os primeiros dias de nosso país.
Neste Dia da Consciência Negra, a Visão Mundial, organização cristã que há 45 anos atua no Brasil pela proteção e vida digna de crianças e adolescentes, lamenta profundamente essas mortes brutais. É necessário que elas sejam investigadas com rigor pelas autoridades. Mas é preciso mais.
Que o dia 20 de novembro, data que representa a luta pelos direitos do povo negro no Brasil, não seja em vão. Que todos os dias, crianças, adolescentes, jovens e adultos negros possam ter direito a todos os seus direitos, a começar pelo direito mais básico: o direito à vida.
Fonte: https://visaomundial.org.br/noticias/nota-publica-da-visao-mundial-pelo-fim-do-racismo-estrutural-e-historico-no-brasil