Artigos
Pequenas doses de masculinidade IV
Ah, como as aparências enganam! Quando vejo um homem ou uma mulher falando de como as coisas eram boas quando cada um sabia o seu lugar na vida (aquele que se vive na família, na Igreja, no trabalho…), fico matutando e só consigo suspeitar que esse tipo de pensamento, e a sensação de organização que dele provém, encobre uma enorme perda: a de partilhar a existência com e do outro. Como poderei compreender a glória e o drama de meu parceiro ou parceira, se não fizer continuadas experiências do seu jeito de viver.
É certo que nunca serei o outro, mas certamente poderei desenvolver uma solidariedade que me permita assumir as vivências daquele ou daquela que comigo partilha a jornada da vida. Dessa forma será sempre mais verdadeira minha impressão sobre suas alegrias, dores, cansaços, sonhos etc. Por isso, não sei se era tão bom quando nas distâncias dos lugares determinados aos homens e mulheres, cada um permanecia na ilha de sua solidão, julgando que a solidão do outro era tão mais branda do que a própria.
Pensando nisso quero partilhar, no ritmo da poesia, o que tenho vivenciado, desejando que possa contribuir para a construção de pontes sobre nossas ilhas.
Faço teologia como mulher
Com tempos interrompidos pelo reclamo da filha
Pelas saborosas carências da parceira
Pela solidariedade nas coisas da casa
E da lidaSobre a sensibilidade…
Tento fazer teologia como mulher
Na chave do afeto
Na clave do desejo
Tocando as relações
Subvertendo…
… As racionalizações…Nunca ocupando o lugar seu
Que não poderia ser ocupado – mesmo quando usurpado
Desejando ser parceiro
Nos sabores e dissabores da caminhada humana
Humanizando-me
Humanizando-asFazendo teologia como mulher
Afirmo minha masculinidade
Uma masculinidade mais plena
Porque também femininaHomem…
Mas não macho
Experimentado pelo feminino
Experimentando-o na brincadeira do Sagrado.