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Evangélicxs Dizem NÃO ao Fascismo
Como pessoas LGBTI e aliadxs espalhadas por todo o território brasileiro, que se conectam e constituem como um espaço de comunhão, solidariedade e acolhimento a pessoas sexualmente diversas entre as comunidades de fé evangélicas no Brasil, vimos neste momento de intensa disputa política por ocasião das eleições, em primeiro lugar, celebrar o número expressivo de candidaturas de pessoas LGBTI em vários estados do país. Nossa recomendação, já manifestada nas redes sociais, é de que se #VoteLGBT para que as demandas das minorias sexuais – no que se refere a gênero, sexualidade e demais expressões de diversidade – sejam reconhecidas e devidamente encaminhadas nas casas legislativas a fim de que se assegure a plena cidadania para todxs.
Ao mesmo tempo nos preocupa fortemente que, em consonância com a resistência que setores evangélicos com expressão midiática e partidária vêm manifestando sistematicamente contra pessoas LGBTI, várias lideranças evangélicas estejam declarando apoio à candidatura presidencial que mais perversamente tem abrigado ódio, intolerância e desrespeito à vida e aos direitos das pessoas sexualmente diversas, assim como das mulheres, negros, indígenas, quilombolas, pessoas periféricas, entre outros grupos populacionais e movimentos sociais.
Tais manifestações políticas de lideranças evangélicas deveriam alarmar a todxs aqueles e aquelas que se identificam por esta tradição do cristianismo no Brasil, já que elas são incompatíveis com o legado de respeito, amor e justiça deixado por Jesus de Nazaré (Mt 5.6; 7.12; 13.39, 40; Rm 13.10).
Destacamos que historicamente a tradição evangélica buscou orientar sua conduta pública pelo legado democrático que a Reforma Protestante, que acaba de completar 500 anos, construiu, expresso na luta por um Estado Laico onde todas as diferentes expressões de fé têm liberdade de culto, e as decisões políticas não são tomadas a partir de convicções religiosas. A história nos dá numerosos e infelizes exemplos das consequências da não observância desses princípios pela igreja.
Lamentamos profundamente que significativos setores da religião evangélica, outrora vítima de perseguição como minoria política e religiosa, agora tornem-se apoiadores de uma candidatura autoritária, e que queiram impor sobre uma sociedade diversa e plural políticas e posturas assentadas numa leitura e hermenêutica das Escrituras que é colonial, machista, misógina, LGBTIfóbica, intolerante, violenta e controladora. Tal projeto de Estado não condiz com os valores de Jesus de Nazaré, como alguns têm erroneamente argumentado, e estão distantes de representar o que o Cristo espera de pessoas que se chamam pelo seu nome. Repudiamos todo e qualquer uso do nome de Cristo ou de Deus como uma espécie de “argumento de autoridade” para justificar violências. A Igreja de Cristo, guiada pelo seu Espírito, é chamada a ser luz e não trevas, a levar bênção e vida abundante a todas as pessoas.
Por isso, enfatizamos que o chamado do Espírito a nós constitui no rompimento com tantos ciclos de violência que lamentavelmente foram/são empreendidos e reforçados por instituições e lideranças religiosas cristãs por tantos séculos, e até hoje. É tempo de atentarmos honesta e humildemente ao compromisso social que a Palavra de Deus nos dá através da voz dos profetas e do verdadeiro Messias – não o falso que tem feito muitos tropeçarem com promessas e ideais falsamente chamados “cristãos”. Convocamos as igrejas e lideranças evangélicas a ecoar Provérbios 31.8 e 9: “Erga a voz em favor dos que não podem defender-se, seja o defensor de todos os desamparados. Erga a voz e julgue com justiça; defenda os direitos dos pobres e dos necessitados”.
Como pessoas LGBTI evangélicas e aliadxs nos unimos a outros setores da sociedade e do campo religioso para repudiar a crescente associação entre estas lideranças evangélicas e o autoritarismo “cristofascista” (Dorothee Sölle) que, através da candidatura de Jair Bolsonaro e o General Hamilton Mourão, propaga a negação do estado laico, da valorização da diversidade, da igualdade de gênero, do enfrentamento à LGBTIfobia, e dos próprios valores mais caros ao Evangelho, prestando um desserviço à própria fé cristã, propagadora de vida plena irrestrita a todxs (Jo 10.10), fomentando desinformação e preconceitos que custarão a morte de pessoas criadas à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.27; Ef 2.10) por todo o nosso país.
Igualmente, não podemos nos calar diante da conivência de setores evangélicos que ao buscarem uma pretensa neutralidade santificadora se isentam da responsabilidade de lutar contra o fascismo e em favor das populações por ele violentadas. Como disse o arcebispo anglicano Desmond Tutu: “Se você é neutro em situações de injustiça você escolhe o lado do opressor”; ou ainda como diz o apóstolo Tiago: “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado.” (Tg 4.17).
Permaneceremos em oração e vigilância (Mt 26.41) para que nossa nação saiba, com espírito de sabedoria e amor (Tg 3.17), fazer as escolhas eleitorais que sejam ao fim e ao cabo sementes de esperança para todo o nosso povo e nos ajudem a superar as estatísticas que nos colocam entre os países que mais cometem assassinatos motivados pela LGBTIfobia. Permaneceremos, também, em santa resistência, propagando o Evangelho de um Reino de justiça e igualdade, bondade e fidelidade, de Graça irrestrita e Amor transgressor.
Finalmente, rogamos a Deus que a igreja recupere sua vocação de fazer a outrxs o que querem que lhes seja feito (Mt 7.12) e rejeite a apatia e o silêncio perturbadores diante da negação do direito à existência e vida plena para todxs. A uma só voz dizemos NÃO AO FASCISMO! #ELENÃO! #ELENUNCA!