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Ruah é Deus em corpo de mulher

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Ruah é Deus em corpo de mulher

Ruah é Deus em corpo de mulher

Hoje é Domingo de Pentecostes. O pentecostes marca a descida do Espírito Santo sobre a comunidade de discípulos e discípulas uma vez que o Jesus ressurreto ascendeu ao céu.

O céu da ascensão não é um lugar determinado, que se situa acima de nós. Ele é a experiência da transformação do corpo físico de Jesus em presença cósmica, é a ruptura da barreira entre o palpável e a transcendência, é a impregnação da presença iluminada, iluminadora, acolhedora, amorosa, terna de Deus em Jesus, e em nós.

Na narrativa cristã, a presença de Deus no mundo após a ascensão de Jesus se dá por meio do Espírito Santo. A palavra “espírito” no original hebraico, Ruah, é feminina. Assim, teólogas e teólogos feministas reivindicam a feminilidade de Deus que permaneceu encoberta, por séculos, sob a tradução latina de gênero masculino para uma palavra que é originalmente feminina.

Ruah não é a única razão pela qual se afirma a feminilidade de Deus. Mas é uma boa razão.

Deixo com vocês o meu atrevimento de cometer um poema quadrado para este Domingo de Pentecostes:

Ruah é sopro, vento,
coisa que não se prende nem pode ser contida,
é potência, imbricamento,
estrutura da própria textura da vida.

Ruah é a respiração do mundo,
é Deus em corpo de mulher,
é livre, solta, instigante, sem freio,
vai simplesmente prá onde quer.

O patriarcado trucidante,
que das mulheres e meninas é algoz,
já não pode reter nossa luta e vontade,
nem sequer nosso corpo e nossa voz.

Avante mulheres insubmissas
para enfrentar este tempo de retrocesso
pois nem fascistas nem crentes sexistas
vão nos tolher de purgar este abscesso.

Vem Ruah!
Contém a pandemia! Cura o nosso povo!
Consola as tuas filhas e os teus filhos; enxuga-lhes o choro.
Abraça os corpos esmagados e os tantos outros mortos,
Dá impulso, coragem, respiro,
para os nossos novos e singulares hortos.

Mestre em Direito (2016), Bacharel em Direito e Ciências Sociais (1994) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil (1985). Seu trabalho conecta Direitos Humanos, Sociedade, Teologia e Arte através do viés litúrgico e humanitário. É pastora luterana licenciada, tendo pastoreado paróquias luteranas no Brasil e na Suíça de 1998 a 2012, e tem desenvolvido projetos relacionados a HIV/AIDS, Violência Urbana e Paz, Justiça de Gênero e Intolerância Religiosa. Atuante no movimento inter-religioso desde 1992, na presidência do CONIC-Rio (2014-2016) organizou a reconstrução do terreiro da Mãe Conceição D'Lissa em Duque de Caxias.

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