Ruah é Deus em corpo de mulher
Hoje é Domingo de Pentecostes. O pentecostes marca a descida do Espírito Santo sobre a comunidade de discípulos e discípulas uma vez que o Jesus ressurreto ascendeu ao céu.
O céu da ascensão não é um lugar determinado, que se situa acima de nós. Ele é a experiência da transformação do corpo físico de Jesus em presença cósmica, é a ruptura da barreira entre o palpável e a transcendência, é a impregnação da presença iluminada, iluminadora, acolhedora, amorosa, terna de Deus em Jesus, e em nós.
Na narrativa cristã, a presença de Deus no mundo após a ascensão de Jesus se dá por meio do Espírito Santo. A palavra “espírito” no original hebraico, Ruah, é feminina. Assim, teólogas e teólogos feministas reivindicam a feminilidade de Deus que permaneceu encoberta, por séculos, sob a tradução latina de gênero masculino para uma palavra que é originalmente feminina.
Ruah não é a única razão pela qual se afirma a feminilidade de Deus. Mas é uma boa razão.
Deixo com vocês o meu atrevimento de cometer um poema quadrado para este Domingo de Pentecostes:
Ruah é sopro, vento,
coisa que não se prende nem pode ser contida,
é potência, imbricamento,
estrutura da própria textura da vida.
Ruah é a respiração do mundo,
é Deus em corpo de mulher,
é livre, solta, instigante, sem freio,
vai simplesmente prá onde quer.
O patriarcado trucidante,
que das mulheres e meninas é algoz,
já não pode reter nossa luta e vontade,
nem sequer nosso corpo e nossa voz.
Avante mulheres insubmissas
para enfrentar este tempo de retrocesso
pois nem fascistas nem crentes sexistas
vão nos tolher de purgar este abscesso.
Vem Ruah!
Contém a pandemia! Cura o nosso povo!
Consola as tuas filhas e os teus filhos; enxuga-lhes o choro.
Abraça os corpos esmagados e os tantos outros mortos,
Dá impulso, coragem, respiro,
para os nossos novos e singulares hortos.