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Exclusão dos abusadores sexuais (1 Coríntios 6.9; 1 Timóteo 1.10)
Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos. (1 Coríntios 6.9)
[A lei é feita] para os que praticam imoralidade sexual e os homossexuais, para os sequestradores, para os mentirosos e os que juram falsamente; e para todo aquele que se opõe à sã doutrina. (1 Timóteo 1.10).
Nunca devemos nos esquecer que Paulo está escrevendo no contexto social greco-romano. Fazemos injustiça à Bíblia quando lemos as Escrituras com uma compreensão moderna da intimidade sexual comparada ao ethos cultural existente em seu próprio tempo. No mundo grego antigo, a pederastia — uma relação sexual entre adultos e crianças — era muitas vezes comum e praticada extensivamente como um tipo de ritual de iniciação masculina. Os costumes sexuais gregos influenciaram a cultura romana, com a ressalva de que as relações entre o mesmo sexo entre os romanos em geral se davam entre um amo e seu escravo. É a este mundo greco-romano que Paulo escreve suas cartas.
O grego que parece nestas passagens, que se traduz geralmente como “homossexual” é arsenokoites (1 Coríntios também inclui a palavra grega malakos). Traduzindo estas palavras como “homossexual”, um termo que não existiu até o final do século dezenove, levou muitos a conclusão de que os homossexuais não herdarão o reino de Deus. Mas arsenokoites e malakos não se referem ao que hoje chamamos de uma relação íntima homossexual.
Malakos significa literalmente “suave”, um termo que se utiliza na literatura antiga para fazer referência a “crianças afeminadas”. Também poderia ser uma referência a uma relação de pederastia, onde um homem assume a posição passiva de uma mulher ou a “suave”.
Arsenokoites é mais difícil de traduzir porque o termo parece ter sido cunhado por Paulo, não aparece em outras literaturas antigas nem é utilizado por autores posteriores. Arsenokoites denota o papel passivo adotado pela prostituição masculina. Se levamos em consideração que havia mais de mil prostitutas e prostitutos que trabalhavam em Corinto no templo de Afrodite e que a prostituição masculina se praticava amplamente na Grécia, 1 Coríntios e 1 Timóteo poderiam estar se referindo a estes prostitutos, concretamente os prostitutos masculinos que ainda eram crianças?
O que estas passagens bíblicas condenam, portanto, é a pedofilia e a prostituição masculina (comparada à prostituição feminina que parece ser dada como óbvia), não uma relação de amor entre homens.
Causamos dano ao texto bíblico se não somos capazes de entender que o contexto histórico em que foi escrito é muito diferente do nosso. Ao ler esta passagem, entre outras, devemos nos manter em sintonia com as diferentes atitudes sobre as mulheres e sobre o comportamento social que se projetam nela. O que não se discute nesta passagem é o poder do amor entre duas pessoas e o vínculo que se estabelece na base desse amor. Em nenhuma parte da Bíblia encontramos exemplos de repúdio a relações amorosas.
* Traduzido e adaptado de A la Familia: una conversación sobre nuestras familias, la Biblia, la orientación sexual y la identidad de género, escrito pelo Rev. Dr. Miguel de la Torre, Rev. Dr. ignacio Castuera e Lisbeth Meléndez Rivera, produzido por Unid@s LGBT, Human Rights Campaign Foundation e National Gay and Lesbian Taks Force.