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7 coisas que a maior pesquisa sobre pessoas trans no mundo nos ensina sobre nossas igrejas

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7 coisas que a maior pesquisa sobre pessoas trans no mundo nos ensina sobre nossas igrejas

7 coisas que a maior pesquisa sobre pessoas trans no mundo nos ensina sobre nossas igrejas

Por Austen Hartke*

O Centro Nacional para a Igualdade Transgênera divulgou em 2016 os resultados da pesquisa Transgênero EUA 2015 — a maior pesquisa já realizada que examinou a experiência de pessoas trans nos Estados Unidos. A pesquisa investigou a experiência de quase 28.000 pessoas que se identificam como transgênera, não binária, queer, sem gênero ou que usam outro termo sob o guarda-chuva transgênero.

As pessoas que escolheram participar desta pesquisa histórica responderam a perguntas sobre tudo, desde a experiência com assédio nos banheiros, até o nível de aceitação dos membros da família, às interações com a aplicação da lei, a filiação partidária e o status de emprego. Embora apenas sete perguntas sobre a pesquisa abordem diretamente a religião e o envolvimento com comunidades religiosas, os dados apresentados no relatório final podem ajudar as igrejas a viverem seu chamado como santuários. Povo de Deus, você está ouvindo?

1. A maioria das pessoas trans teve alguma experiência em uma comunidade de fé.
Alguns cristãos podem se surpreender ao saber que convivem com uma pessoa transgênero em sua congregação, seja porque seu irmão em Cristo não tenha saído do armário, ou não se apresente visivelmente como trans. No entanto, 66% dos entrevistados disseram que já participaram de uma comunidade de fé em algum momento de sua vida. Esse percentual inclui pessoas de todas as origens religiosas, portanto, a fração que se identifica especificamente como cristã será um pouco menor que 2/3 (dois terços), mas ainda assim é uma maioria inesperada. Também digno de nota é o fato de que, de todos os grupos raciais, pessoas negras trans são as mais prováveis de terem participado de uma comunidade de fé.

2. As pessoas trans têm medo da rejeição religiosa.
É difícil cultuar quando você está constantemente na defensiva. Pessoas trans em igrejas que não são afirmativas ou que não tomaram uma posição sobre a inclusão LGBTQ+ muitas vezes precisam orar com um olho aberto, perguntando-se se e quando serão excluídas, e que consequências terão que enfrentar para tentar entender a identidade que Deus lhes deu. Agora sabemos que 39% das pessoas transgêneras que fazem parte de uma comunidade de fé partiram devido ao medo de rejeição.

3. As pessoas trans têm uma boa razão para ter medo.
Para os que podem sugerir que todo esse medo é infundado, ou pelo menos desproporcional, temos que ter em mente que entre as pessoas trans atualmente nas comunidades de fé, quase 1 em cada 5 (18%) experimentou uma rejeição direta. 6% das pessoas pesquisadas informaram que alguém pediu a elas para se encontrar com um líder espiritual que poderia, supostamente, ajudá-las a não serem trans; 6% disseram que algum membro da comunidade pediu pra elas procurarem ajuda psicológica ou médica para lhes ajudar a não serem trans, e pediram a 5% delas a deixar de irem ao culto. Esses tipos de rejeições diretas foram mais vistos entre os entrevistados identificados como de origem asiática, 40% dos quais relataram essas experiências.

4. Pessoas trans estão deixando as igrejas por causa dessa rejeição.
Se os cristãos pudessem concordar sobre alguma coisa quando se trata do corpo de Cristo, talvez pudesse ser que não devemos rejeitar nossos próprios membros. O olho não pode dizer para a mão: “Eu não preciso de você!”, certo? E, no entanto, 19% das pessoas transexuais que participam de uma comunidade religiosa abandonaram porque foram abertamente rejeitadas. Muitas pessoas trans permanecem, apesar do mau tratamento que recebem e até do abuso espiritual, porque, como para muitos de nós, a igreja é a sua família. Ainda assim, é difícil ficar onde você não é desejada. Quase uma em cada cinco pessoas trans decide que é melhor ir embora e perdemos a presença delas, seus dons espirituais e suas perspectivas e experiências únicas. Mais uma vez, as pessoas não brancas experimentam essa rejeição com mais frequência, e um número ainda maior de pessoas trans indígenas e negras relatam deixar suas comunidades de fé.

5. As pessoas trans estão voltando às igrejas que as afirmam.
Gato escaldado tem medo de água fria, certo? Bem, não é assim para todas as pessoas de fé transgêneras que suportaram tanto, e de quem o apóstolo Paulo poderia estar falando quando disse que “a perseverança [produz] um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança” (Romanos 5.4). Ao que parece, 42% das pessoas transgêneras que foram rejeitadas por uma comunidade de fé descobriram uma nova que as acolhe como elas são. É importante destacar, porém, que a nova comunidade pode não ser da mesma tradição religiosa. O estudo também descobriu que os entrevistados de origem latina e asiática tiveram mais dificuldade em encontrar uma nova comunidade de apoio.

6. 19% das pessoas transexuais estão ativamente envolvidas em uma comunidade de fé.
Não apenas as pessoas trans se vinculam às igrejas que as apoiam — elas se envolvem. Cerca de 1 em cada 5 pessoas trans entrevistadas disseram que estiveram envolvidas em sua comunidade de fé em 2014 e 60% disseram que participavam de uma comunidade onde os líderes ou outros membros sabiam que elas eram transexuais. Qualquer cristão LGBTQ+ dirá que é muito mais fácil ir à igreja no domingo, liderar pequenos grupos, atender telefones no escritório e ajudar a organizar o presépio, quando você pode levar tudo o que você é para cultuar.

7. As igrejas transafirmativas estão praticando o que pregam.
Dependendo de onde você mora nos Estados Unidos, pode ser difícil encontrar uma igreja que expresse uma acolhida específica e entusiasta às pessoas transgêneras. A boa notícia é que as igrejas que estão fazendo este trabalho parecem estar fazendo bem. Um total de 96% das pessoas transgêneras atualmente envolvidas em uma comunidade de fé disseram ter experimentado alguma forma de afirmação — que pode incluir apoio pessoal a sua identidade trans, ou pode significar uma afirmação teológica de sua aceitação e pertencimento. Independentemente disso, essa estatística nos mostra que os cristãos são mais que capazes de levar as Boas Novas às pessoas de maneira que possam realmente experimentá-las como boas notícias.

Então, agora que sabemos mais sobre pessoas de fé transgêneras e suas necessidades, esperanças e medos, como responderemos? Que nos atrevamos a nos perguntar aquela antiga questão — o que Jesus faria em nosso lugar?

Austen Hartke é o criador da série “Transgênero e Cristão” do YouTube, que busca entender, interpretar e compartilhar partes da Bíblia que se relacionam à identidade de gênero e à vida de indivíduos transgêneros. Austen possui Mestrado em Antigo Testamento/Estudos Bíblicos em Hebraico pelo Luther Seminar, e é o vencedor do Prêmio John Milton 2014 da mesma instituição. Ele tem dado conferências por todo o país, em congressos, escolas e universidades. Seu livro “Transforming: The Bible and the Lives of Transgender Christians”, foi lançado em abril de 2018 pela Westminster John Knox Press.

* Publicado originalmente em https://sojo.net/articles/7-things-largest-ever-survey-transgender-people-tells-us-about-our-churches

O Evangélicxs pela Diversidade é uma rede que reúne pessoas LGBTI e aliadxs que se identificam como evangélicas e que entendem que a diversidade sexual e a identidade de gênero devem ser celebradas como expressões da fé e espiritualidade, e que independente do gênero ou sexualidade, as comunidades de fé podem ser um lugar seguro para todxs.

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