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Sob o domínio do mal

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As pessoas são livres no Brasil. Liberdade, no entanto, necessita de certas condições para se realizar de forma plena. Entre os cristãos, de forma indistinta, a liberdade é proclamada, mas não desejada. Fazem de tudo para cercar essa ideia de perigo. Entre os Batistas, a liberdade é também um fundamento que organiza nosso DNA, mas ao ser testada no dia a dia, verificamos como os evangélicos batistas também desconfiam dela e a temem.

Uma incoerência, portanto. Fomos convocados à liberdade, como diz Paulo, mas quando devemos testar sua solidez, fracassamos.

Um dos inimigos da liberdade cristã e batista é um grupo de homens que mudam de tempos em tempos sua roupagem, mas que são da mesma natureza há eras. Homens que em nome do que intitulam “fé verdadeira”, “fé bíblica”, “defesa da família cristã”, “preservação da juventude do mundo cheio de pecado”, dos “liberais que dominam o mundo e a denominação”, destilam seus temores pessoais em uma cruzada de ódio à diferença. Fazem isso de forma desonesta com aparência piedosa.

Desde quando é evangélico falar mal de um irmão em redes sociais? Citar seus nomes, apequenar suas histórias, usar de sua influência para minar o espaço do outro? Desde quando é evangélico silenciar alguém? Desde quando é evangélico pressionar os outros com sabe lá quais ameaças para ter sua vontade atendida? Desde quando crentes batistas são infantis ao ponto de termos censores para decidir por nós a quem devemos ouvir, ler, ver ? Esqueceram da liberdade individual, da responsabilidade exclusiva do crente sobre suas decisões, da recomendação Paulina aos cristãos bereanos?

Toda vez que esse grupo de pessoas consegue realizar sua vontade, todos nós nos apequenamos e ficamos cativos novamente.

Os tais “conservadores”, que para se justificar e ganhar apoio do crente constroem um discurso contra um inimigo inexistente na história da liderança da nossa denominação, os tais “liberais”, desejam poder. Poder para homogeneizar o discurso, poder para controlar. É bom tomarmos cuidado com o monstro sendo gerado lentamente no útero batista. A fala dessas lideranças é um canto enganoso, pois diz o que o crente deseja ouvir, brinca com seus temores, falam em nome da tradição. Mas o que desejam realmente é o fim do ministério pastoral exercido por mulheres, o controle da agenda em relação a tudo, influência para interferir na vida das igrejas locais, entre outras formas de dizer que a liberdade é um perigo constante para o indivíduo.

A liderança da Convenção Batista Brasileira (CBB) precisa entender que silenciar pessoas e ceder a pressões de A e B que se pensam baluartes da fé evangélica e Batista é, na verdade, antievangélico. E perigoso. Temos uma denominação que por uma série de desacertos é questionada e esvaziada por conta da falta de interesse e contribuições. Temos uma liderança elitista que é incapaz de abrir espaço para boas lideranças que vem de baixo. Temos ainda os joguetes e pressões de lideranças que querem que o conjunto imenso dos batistas pensem e vivam como eles. Eles são manipuladores incansáveis pelas constantes ameaças de ruptura.

Os Batistas são plurais, mas esses grupos que estão agora nos bastidores, organizados como coalizão, reformados, desejam que essa pluralidade se transforme em retórica vazia. O que aconteceu no congresso da Juventude Batista Brasileira, no Rio de Janeiro, é a vitória do medo. E, claro, a ponta de um iceberg. É assim que vai ser, batistas brasileiros?

Silvia Nogueira é pastora batista. Possui graduação em Teologia pela Faculdade Teológica Batista em São Paulo (1999). Possui graduação e licenciatura plena em Letras pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e Mestrado em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação (FFP/UERJ). É professora de Língua Portuguesa da rede municipal de Macaé, RJ.

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