Mulheres, educação e Jesus
Lembro bem de ter ouvido, algumas vezes, comentários de vizinhos – sempre homens – com meus pais, de que as filhas deveriam ir à escola “somente para aprender a assinar o nome” e as operações básicas da matemática, “para não escrever bilhetes para namorados”. Mas isso era no interior do Brasil, no final dos anos 1970, dito num contexto de país marcado por grandes contingentes de semi e de analfabetismo.
Inacreditável que essa resistência à liberdade das mulheres e reconhecimento pleno do óbvio – sua igualdade ontológica e moral – perdure e se renove, como temos visto. O vídeo amplamente circulado nesta semana de um magnata da comunicação no Brasil, dublê de bispo, atualiza, constrangedoramente, esse assunto que já era estapafúrdio nos anos 1970!
Para manter a dominação machista sobre mulheres – e os homens seguirem sentindo-se ‘machos’ – elas deveriam estudar apenas até o Ensino Médio! (sic).
A tentativa de manter essa cultura desumana (e antievangélica, para quem é cristão!), não funcionou, neste tópico pelo menos, porque as mulheres têm ido à luta. Pesquisa do IBGE (2018) revela que, na faixa dos 25 anos ou mais, mulheres com formação universitária perfazem 16,9%, enquanto os homens, 13,5%. “Quando se distingue de acordo com a cor da pele, esse índice se mantém mais alto para as mulheres, sejam elas brancas ou negras. Enquanto 20,7% dos homens brancos têm o ensino superior completo, 23,5% das mulheres brancas têm esse nível. Entre os negros e pardos, 7% dos homens têm o superior, contra 10,4% das mulheres” (O Globo, 7/3/18, com base na pesquisa do IBGE).
A gangorra de desigualdade se inverte quando o item é remuneração. Aí os homens mantêm sua dominação perversa e desonesta. Segundo a mesma pesquisa, mulheres ganham 23,5% a menos que os homens. O salário médio deles no Brasil é R$ 2.234, e o delas é R$ 1.764.
Em relação à dominação machista, esta não tem muita alteração no recorte nível de escolaridade, renda e adesão religiosa. De certa forma, a perspectiva do Bispo Macedo, de uma igreja cuja membresia é marcada por classes populares, não difere substancialmente de uma denominação protestante histórica e dona de Universidade, como a presbiteriana. Esta não permite que mulheres sejam pastoras nem exerçam liderança presbiteral.
Mais um dado da complexidade do mundo real: Pesquisa qualitativa de doutoramento do Robson Costa mostra comparativamente que mulheres de classe popular nas Assembleias de Deus têm mais autonomia de gênero do que suas irmãs na Igreja Presbiteriana do Brasil. (Mulheres evangélicas e práticas religiosas – Uma análise comparativa na perspectiva de gênero, PPGSS-UFRJ, 2013).
Enfim, enquanto homens ricos ou nem tanto, com formação média ou mesmo com pós-graduação, de igreja nova e sem lastro doutrinário ou de denominação com forte tradição teológica comungam da misoginia, Jesus tem outra posição e postura. Estes sacerdotes religiosos, que afirmam seguir Jesus e mesmo Paulo, agem na contramão e contradição à Cristo e ao apóstolo (Gl 3.28). Usam, às vezes, argumentos adocicados para falar acerca das mulheres, mas suas palavras encobrem – ou revelam – perspectiva de controle ou suposta dominação sobre elas.
Jesus, que é Deus, tem postura diferente, antagônica. Ele reconhece o direito das mulheres à educação. Ele gasta tempo na formação, qualificada, com Maria, em Betânia. Um rabino nunca se aproximaria nem dedicaria tempo à educação de uma mulher, mas ele, Filho de Deus, dá um curso de graduação, não para Lázaro (que poderia ter acesso a um rabi), mas à sua irmã. Quebra de paradigma, pois pessoas são mais importantes do que regras.
Jesus, que é Deus, e está acima da IURD e do Supremo Concílio, inclusive do Vaticano e do Papa, dá um curso de pós-graduação teológica para a Mulher Samaritana!
Jesus, que é Deus, aprende também com mulheres, como ele mesmo demonstra no episódio com a mulher siro-fenícia.
Jesus, ressurreto, comissiona uma mulher, Maria Madalena, à maior tarefa apostólica: Anunciar a homens e mulheres que Ele está vivo. E veio dar vida, por igual, para todos e todas!