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Os afetos de Jesus

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Os afetos de Jesus

Os afetos de Jesus

Eu consigo imaginar a raiva de Jesus quando ele enfiou a porrada nos mercadores no Templo.

Ele arrebentou com tudo: mesa, cadeira, mercadoria, protocolo, sistema, status quo.

Chamou de esconderijo de ladrões aquele lugar que deveria ser uma Casa de Oração.

Não teve gracinha. Foi sem massagem.

Os afetos de Jesus eram bem nítidos naquele momento: raiva e indignação.

É isso.

Raiva é afeto.

Não dá pra emplacar texto delicado e emocionante.

O que reativa meu corpo, reaviva meus músculos, aguça meus sentidos agora é a raiva.

Fala pra mim: saber que um moleque preto tomou um tiro na barriga de um policial da CORE, foi removido da cena do crime e reaparece 17 horas depois MORTO te gera que tipo de sentimento?

Pelo seu perfil sócio-político-racial eu consigo prever seus afetos. Vejamos:

Se você estiver longe do bairro do menino morto, no seu condomínio, no seu entorno higienizado socialmente, no seu território de privilégios estruturais, no seu processo de “desconstrução”, você vai ficar triste e subirá imediatamente uma hashtag pra gerar engajamento nas redes sociais.

Se você estiver perto, se você tiver filhos e sobrinhos parecidos com o João, se você mora num lugar parecido com o complexo do Salgueiro, e se você luta pelo seu pão de cada dia todo dia e tem as mãos cheias de calos e os pés sujos de terra do chão da vida, você tá sentido RAIVA.

Raiva disso tudo.

Desse assassinato que vai ficar por isso mesmo, porque a gente sabe que não vai acontecer nada.

E vocês também sabem que eu não sou conformista… Isso se chama realidade.

São esses afetos de agonia e inconformação que movem a gente na direção da Justiça.

É essa inconformação que funciona como injeção de adrenalina no coração que parou de bater.

João re-existe.

Voltou pra casa.

Descansa sem dor nos braços do Sagrado.

A gente resiste.

Sem gracinha, sem hashtag.

A gente segue botando a cara no miolo da dor.

A gente continua se encontrando na luta pela garantia de direitos do povo preto pobre favelado.

Inconformada.

Como Jesus, eu choro.

Me alimento e me fortaleço do Seu Amor e Sua Justiça.

Em orações, preces e súplicas, crendo que o Sagrado vai cuidar do coração dessa família.

Mulher preta cristã na resistência, educadora social, Diretora Executiva do Odarah Cultura e Missão, membra da Comunidade Batista em São Gonçalo.

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