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Um jovem, gay, cristão, metodista

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Um jovem, gay, cristão, metodista

* Por Alexandre Pupo Quintino

Hoje eu tive a oportunidade de ir à igreja de manhã, exatamente como faço com minha família há 25 anos. De acordo com a geografia informal dos bancos da igreja – que eu sempre achei um tanto curiosa – nos cabe um banco ao fundo, à direita do corredor central. Cantamos hinos, oramos, trocamos abraços e recebemos a proclamação e a mensagem do Evangelho.

Mas hoje foi um dia especial, um tanto diferente de outros domingos. Voltei pra casa refletindo da trajetória que me trouxe até aqui. Um jovem, gay, cristão, metodista.

Resolvi escrever essas palavras para compartilhar o poder libertador que experimentei, com o Espírito, ao longo da minha trajetória de fé. Como líder juvenil, enfrentei os dilemas da puberdade sob uma teologia profundamente conservadora e restritiva. Vivi períodos de frustração, de medo, de vergonha. Sentimentos que nada tem a ver com o amor e graça libertadores de Jesus de Nazaré.

Foi graças ao movimento ecumênico e o contato com pessoas de diferentes contextos e lugares que eu comecei, aos poucos, a encontrar uma teologia mais aberta. Nas leituras populares da bíblia e na reflexão ao lado dos movimentos sociais, tive a oportunidade de conhecer a história e o legado da Teologia da Libertação e a possibilidade de ler a bíblia com os pés no chão, e não caindo nele. Mas a questão da sexualidade ainda incomodava, ainda perturbava.

Quando comecei a ler e pesquisar sobre os debates que aconteciam à época na United Methodist Church – a denominação metodista de caráter mundial que engloba os Estados Unidos, Europa, África e parte da Ásia – sobre a questão da sexualidade humana, me vi representado nas diferentes posições que se contrapunham.

Ali encontrei mais de 40 anos de luta e reflexão teológica por uma igreja mais inclusiva. Ali encontrei uma vivência espiritual libertadora, profunda e aberta para todas as pessoas. Foram canções, hinos, sermões, reflexões e testemunhos que Deus usou para transformar minha vida e minha mente.

Aos poucos, eu fui conhecendo a graça e o amor em uma profundidade que me havia sido negada.

Como eu, há muitos e muitas, espalhados por toda a Igreja de Cristo, exercitando seus dons, transformando comunidades, sendo usados por Deus.

Aos poucos nós vamos nos juntando. Nós não nos conformamos em ficar calados. Nós não vamos nos retirar. Nós existimos e resistimos.

Se nos calarem, as pedras falarão (Lucas 19:40).

† Em memória de todos os que se foram, todos os que sofreram, todos os que não suportaram e que partiram antes de poder viver plenamente em suas comunidades.
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Quero deixar alguns links para vocês, que me foram muito úteis nessa caminhada:

– O RMN (Reconciling Ministries Network) é o movimento que hoje agrega mais de 900 igrejas metodistas por todo o mundo que se declararam oficialmente inclusivas: https://rmnetwork.org/ e https://www.facebook.com/RMNetwork

– No Brasil, temos nos organizado de forma interdenominacional no Evangelicxs. Venha contar a sua história e se juntar com a gente:https://www.facebook.com/evangelicxs

– Por fim, queria deixar esta música do compositor metodista Mark Miller, profeta da inclusão, que me ajudou em muitos momentos: https://www.youtube.com/watch?v=vDmrS3ts0B0
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Na foto: O cálice de eucaristia quebrado durante as manifestações sobre a inclusão da comunidade LGBT na assembleia geral da Igreja Metodista Unida em 2004, em Pittsburgh.

Alexandre Pupo é de São Paulo, advogado, membro da Igreja Metodista de Vila Mariana e trabalha em KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço.

O Evangélicxs pela Diversidade é uma rede que reúne pessoas LGBTI e aliadxs que se identificam como evangélicas e que entendem que a diversidade sexual e a identidade de gênero devem ser celebradas como expressões da fé e espiritualidade, e que independente do gênero ou sexualidade, as comunidades de fé podem ser um lugar seguro para todxs.

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