Que todo sofrimento não seja em vão…
Ó Deus, bendito é teu nome para sempre. Em ti me escondo, me alegro e existo!
Me amas como sou e conheces minha voz.
Teu abraço me recria e acalma.
Enxuga minhas lágrimas e seguras minha mão.
Ó Deus, não és apenas mistério invisível.
Teu rosto é colorido como as culturas.
Teu perfume encontra-se em muitos jardins.
Tua voz é como canto de pássaro e riso de criança.
Teus pés periféricos latino-americanos são sujos de barro, são limpos pelos rios das florestas e calejados pelas ladeiras das favelas.
Ó Deus, suas mãos me chamam para roda da vida.
Sabes o ritmo do pandeiro e do berimbau.
Como é bom te servir, Senhor. Como é bom saber que na casa-rua posso te encontrar.
Tenha piedade de nós, Senhor!
Queremos te limitar à bíblia, ao templo. Perdão, Senhor!
Ó Deus, muito sofrimento tem vivido os povos de todos continentes.
Choro, medo, angústia, depressão, conflitos familiares e, o pior, morte sem velório e despedida solidária.
A Covid-19 tem esmagado muitas vidas como cana de açúcar moída na máquina, porém, não há doçura.
A tristeza e a não dinâmica da rua aponta para nossa fragilidade humana e questiona nosso paradigma societário.
Ó Deus, suplicamos que abençoe os profissionais da saúde, da segurança e da limpeza. Cuida deles e de suas famílias.
Orienta os cientistas e que os interesses políticos e econômicos não dificultem a superação dessa pandemia.
Rogo por homens e mulheres em situação de rua. Piedade, Senhor! Que não lhes faltem alimento, abrigo e possibilidade de higienização.
Ó Deus, que os religiosos que tanto falam de justiça e misericórdia possam, de fato, transformar isso em ações de espiritualidade diaconal afetuosa e libertadora.
Que a mão que reza sustente alguém mesmo virtualmente.
Que a voz que canta seja capaz de telefonar para fortalecer quem necessita.
Que o saber escutar o outro em sua dor seja um compromisso radical assumido por todos e todas.
Que o riso seja símbolo de resistência e oração da alegria.
Ó Deus, que um tempo novo seja estabelecido.
Que as ruas se encham de crianças.
Que os namorados voltem para praças, pois, a lua lhes pertence.
Que as notícias das mídias sejam: preparem-se para grande festa do abraço!
Que os vendedores ambulantes nos calçadões gritem: álcool gel de dois reais.
Que os poderosos políticos, econômicos e religiosos ao fim da pandemia digam: tudo que roubei será devolvido aos pobres.
Ó Deus, vai ser tão bonito este dia.
Do caos uma nova ordem foi estabelecida.
O imperativo inegociável é a partilha, o respeito e a comunhão.
Não faltará moradia digna, trabalho, saúde, alimento e poesia na mesa de ninguém.
Utópico eu? Bem, se a Covid-19 não gerar algo próximo deste sonho, todo sofrimento será em vão.
Eu sigo com muita fé e o desejo profundo que ainda sujarei meus pés na areia da praia e, ao olhar o mar em sua imensidão direi: não sei e nem quero andar sobre as águas, me banhar é o suficiente. Saber que não estou sozinho me basta. Obrigado, Senhor!
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